[:br]Nesse texto vamos abordar os efeitos da ordenha no complexo mamário e o que pode ocorrer ao animal com uma rotina de ordenha inconsistente e um equipamento de ordenha não adequado.

Sabemos que o ato de ordenhar um animal seja ele manual, mecânico ou até mesmo a mamada de um bezerro /terneiro pode comprometer o estado de integridade da pele nas pontas dos tetos, fenômeno que ocorre também em vacas de corte tendo maior importância econômica nas vacas de leite por sua rotina diária.

Na pecuária de leite uma das atividades recorrentes é ordenha dos animais com ordenhadeiras mecânicas, onde há o acoplamento do equipamento ao animal através dos conjuntos de ordenha, e nesse conjunto se encontra uma das peças em contato com o teto (teteira) que transfere toda pressão de trabalho do equipamento de ordenha ao teto para a retirada do leite.

Portanto essa ação do equipamento no teto deverá ser monitorada e regulada por técnicos profissionais em sistemas de ordenhas, para se minimizar os efeitos sobre o complexo mamário e promover melhor saúde do úbere ao nosso plantel.

Uma das consequências em não observar a aplicação de uma rotina consistente de ordenha e manutenção do equipamento de acordo com sua funcionalidade, são lesões nos tetos, ao qual nos levam ao comprometimento da qualidade do leite e bem-estar dos animais.

O nosso desafio diário é de manter a saúde do úbere e se manter alerta a qualidade das pontas de teto, não havendo esse cuidado os riscos de problemas relacionados ao teto aumentam muito, principalmente casos de Hiperqueratose.

Mas o que é Hiperqueratose?

A ponta do teto é a primeira defesa do úbere contra a invasão de microrganismos causadores de mastite, estar atento às boas condições dos tetos é essencial para evitar que o problema da mastite se agrave na propriedade. Por ser a barreira primaria fica claro que quando ocorrem alterações na pele dos tetos existe o risco do aumento de novas infecções.

Sendo assim a hiperqueratose da ponta dos tetos das vacas, nada mais é que o aumento exacerbado da pele que recobre a região do canal do teto e orifício externo. Exames histológicos de pele desta região revelam que a hiperqueratose é resultado de uma hiperplasia (nº de células aumentada) do extrato córneo das camadas da pele.  A hiperqueratose é chamada muitas vezes no campo de: calos, calosidade, cornificação, entretanto, chamar a mesma de inversão ou prolapso não é correto.

A ocorrência de hiperqueratose dos tetos é mais comum em rebanhos de altas produções, por possuir um desafio de ordenha maior devido ao tempo individual de ordenha por vaca. O início e a gravidade dessa condição nos tetos são afetados pelo clima, ambiente, manejo, equipamento de ordenha e genética.

Vacas que apresentarem tetos irregulares, mal posicionado ou tamanho inadequado para ordenha mecânica, são mais suscetíveis ao surgimento de casos de hiperqueratose, independente de máquina de ordenha ou manejo. Sendo que a hiperqueratose não é um evento instantâneo e sim a longo prazo entre duas (02) a oito (08) semanas.

Quanto a alterações provocadas pelo equipamento de ordenha:

As alterações relacionadas ao equipamento de ordenha, deverá se associar toda rotina na sala de ordenha e possuir uma visão holística devido a que a interação das ações possa ser a razão do problema.

O texto “Rotina de Ordenha: A Chave Da Qualidade Do Leite” que está no site da MilkPoint traz sugestões de como proceder para possuir uma rotina consistente. O texto ”Volume de Vácuo no Coletor de Leite em Sistemas de Ordenhas e o Efeito na Vaca” que também está no site nos traz informações sobre o que ocorre durante a ordenha. Se encontrará também informações sobre os tipos de teteiras, forma e tempo de uso das mesmas no texto “Tipos de Teteiras”.

Nesse quesito é importante o auxilio de um bom técnico de ordenha para ajuste do equipamento de ordenha caso necessário, de forma sucinta relaciono as situações que devem ser monitoradas para solução do problema ou minimização do problema.

Sendo apontada como uma das causas principais do aparecimento de situações de alteração dos tetos, o equipamento de ordenha deve ser monitorado diariamente pelos ordenhadores e revisado continuamente dentro de prazos prescritos pelos fabricantes, por técnico habilitados para serviço de regulagem e manutenção do equipamento de ordenha.

Um dos grandes vilões apontados para essa situação precária de saúde de ponta dos tetos é o nível alto de vácuo nos sistemas de ordenha. De forma simplista poderá ser a chave, entretanto devemos investigar e averiguar o sistema e o manejo para que possamos chegar as conclusões e aplicar as mudanças necessárias para enfrentar o problema.

Hoje possuímos níveis de vácuo orientativos para os sistemas de ordenha. Por exemplo em um sistema de linha média, o nível de vácuo é entre 47 a 50 Kpa. Numa linha baixa o nível de vácuo poderá ser entre 40 a 42 Kpa. Esses valores como regra geral servem para todos equipamentos de ordenha, mas dependendo do nível de produção, rotinas de ordenha, morfologia do úbere e tipos de teteiras poderá demandar uma necessidade de ajuste dos níveis orientativos de vácuo para conseguir uma melhor performance de ordenha e saúde do úbere.

O nível de vácuo do sistema de ordenha não determina a velocidade de ordenha, para que tenhamos um fluxo de leite satisfatório devemos possuir equilíbrio entre o nível de vácuo do coletor de leite com o tipo de teteira que utilizamos. Entretanto para verificar o bom funcionamento devemos averiguar o sistema de ordenha num todo, a começar pela bomba de vácuo terminando na ponta do teto do animal.

Podemos ter vácuo alto por falta de atuação do “regulador de vácuo” ou por ajuste errôneo do equipamento de ordenha.

Entretanto causas mais comuns de nível alto estão no início e fim da ordenha;

Início da Ordenha: é sabido que a vaca deverá estar preparada e estimulada para que possa liberar ocitocina (hormônio ejeção do leite) e assim dar inicio a ordenha propriamente dita, entretanto, um fenômeno recorrente em muitas fazendas é o que chamamos de Bi modalidade ou sobre ordenha do início do leite.

O acoplamento dos conjuntos de ordenha (Teteiras) a vaca se dá antes de um tempo mínimo para ação fisiológica da vaca em descer o leite, fazendo com que tenhamos vácuo em excesso e pouco fluxo de leite forçando o canal do teto. A bi modalidade pode ser evitada ou minimizada com boa preparação do animal para ordenha.

Fim da Ordenha: se dá de maneira inversa, ou seja, o fluxo de leite cessa ou diminui, mas o conjunto de ordenha não é removido do animal assim permanecendo o vácuo atuando sobre o tecido mamário forçando o canal do teto.

Esses são dois casos de operação, manejo dos animais na sala de ordenha. A sobre ordenha ao final pode ser minimizada com a utilização dos ACR (extratores automáticos de teteiras) desde que os mesmos estejam devidamente regulados para operarem.

Em relação aos componentes, os Pulsadores são responsáveis por realizar o movimento cíclico da parede da teteira definindo as etapas de ordenha (fluxo de leite) e massagem (sem fluxo de leite) e manter a circulação sanguínea ao redor do teto.

Fase de Ordenha (fase do leite): nessa fase as paredes internas da teteira estão bem separadas, abertas, sendo o momento real da ordenha com fluxo de leite no interior da teteira até o coletor de leite.

Fase de Massagem (sem leite): nessa fase se caracteriza pelo contato das paredes das teteiras com o teto, ou seja, fechadas, essa fase tem por finalidade promover a circulação sanguínea e linfática do teto durante a ordenha, para minimizar os efeitos do vácuo necessário para realizar a ordenha.

Os pulsadores podem e devem ser avaliados continuamente com utilização de aparelhos específicos para sua verificação, são os chamados de Pulsógrafos. Com esse equipamento conseguimos realizar as medições, variações de vácuo na câmara de vácuo da capa metálica, ou seja, o espaço deixado entre a teteira e a capa metálica quando montada, os níveis máximo, mínimo e médio na câmara, essa variação cíclica do vácuo está dividia em quatro (04) fases para melhor compreensão.

Fases são divididas em A, B, C e D sendo que as fases A e B corresponde a ordenha, com fluxo de leite, enquanto que as fases C e D correspondem a fase da massagem no fechamento da teteira.

Teteiras: deverão esvaziar o úbere de leite sem causar danos ou efeitos traumáticos aos tetos, para seu correto funcionamento depende de três (03) fatores:

· Funcionamento do sistema de pulsação

· Nível de vácuo do sistema de ordenha

· Características da teteira (material, espessura, elasticidade e design)

A fato mais desafiador é que as vacas possuem características morfológicas diferente de úbere e tetos e diferentes níveis de produção e fluxo de leite. Portanto, as fazendas devem adaptar uma teteira pelo padrão médio do rebanho e pelas características técnicas do sistema de ordenha, pois, chegar a um modelo de teteira perfeito é algo muito difícil pela diversidade que encontramos no rebanho.

Sendo assim para que possamos analisar uma teteira a mesma deve cumprir quatro (04) requisitos básicos;

· Que a teteira se feche hermeticamente em ambos lados da capa metálica

· Utilizar teteira com bocal da câmara de vácuo adequado ao tipo de teto para minimizar quedas e deslizamento de teteira

· Ordenhe rápido, suave e completo minimizando congestão, edema e lesões ao teto

· Deve se lavar e desinfetar facilmente

Contudo, o acompanhamento do equipamento de ordenha se faz tão importante quanto acompanhamento nutricional, sanitário ou reprodutivo do rebanho. Pode comprometer todo o trabalho por não ter um plano de manutenção do equipamento de ordenha e acompanhamento profissional.

As lesões na ponta de teto podem aumentar em até sete (07) vezes a ocorrência de mastite no rebanho, por isso cuidados para manter a saúde de teto das vacas são imprescindíveis para o controle da mastite na fazenda.

Uma dica é visualizar o aspecto dos tetos sempre antes e depois da ordenha, lembrar que hiperqueratose não é instantânea, se desenvolve a médio e longo prazo, verificar especialmente as pontas dos tetos, se as mesmas estiverem saudáveis é um forte indicativo que temos um bom funcionamento do equipamento de ordenha e das teteiras.

Excelente Lactação!

Por Lissandro Stefanello Mioso, Médico Veterinário – CRMV-RS 8457 e Consultor Técnico

 

Bibliografia:

 

Site MilkPoint – autor Marcos Veiga dos Santos (Hiperqueratose dos tetos e sua influência na mastite – Parte 1 e Parte 2).

Site Folha Agrícola – autor Patrícia Maia (A integridade da ponta de teto de vacas leiteiras impacta na ocorrência de mastite).

Site Agron – autor Equipe Agron (Entenda um pouco sobre Hiperqueratose).

Site Comprerural – autor Thamara Mendonça (Hiperqueratose problema pode ser facilmente resolvido).

Manuais técnicos de Funcionamento da teteira – autor departamento técnico Inabor (manual de funcionamento e normas técnicas para funcionamento do sistema de ordenha)

Imagem Google.[:]

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